
Rui Reis já tinha entrado no Pavilhão Desportivo da Universidade do Minho em Azurém noutras circunstâncias. Normalmente, às sextas-feiras, para jogar futebol ou basquetebol como os amigos. Contudo, desta vez, veio pela primeira vez para a RoboParty. Rui Reis é um dos 65 voluntários da 17.ª edição deste evento pedagógico que já juntou quase 8500 participantes desde o seu início.
Os voluntários da RoboParty começaram a chegar antes dos participantes, como seria de esperar. Incumbidos de terminar as preparações do local, eles são indispensáveis. “Eles estão aqui para ajudar em tudo, quer na parte logística, quer também na parte do conhecimento: seja de programação ou eletrónica”, quem o diz é Fernando Ribeiro, membro da organização. Todos os anos, o número de estudantes interessados em ajudar no evento tem vindo a crescer. Sendo na sua maioria estudantes de Eletrónica Industrial e de Computadores, 80% do corpo de voluntários desta edição são alunos da Licenciatura e 20% são do Mestrado. “Nós abrimos um site para eles se inscreverem e em 15-20 minutos esgota sempre. Nós escolhemos aqueles que têm um pouco mais de conhecimentos, mas temos sempre uma percentagem para alunos do primeiro ano”, explicou o Professor da Universidade do Minho, numa edição em que todos os anos curriculares se encontraram representados, mostrando o crescente interesse dos jovens no certame.
Rui Reis, com 19 anos, foi um desses exemplos. Distribuído por tarefas de apoio e logística, Rui Reis não sabia bem o que esperar do evento. Até chegar da ilha da Terceira à praxe da Universidade do Minho, nunca tinha ouvido falar da RoboParty, mas a curiosidade fez com que se inscrevesse como voluntário. “Não tenho expectativas. É tudo novo”, confessou. “Acho engraçado os robots que os participantes montam e programam. É interessante ver os mais novos, porque eu na idade deles nem sabia o que isto era”, brinca, reforçando que “eles são o futuro”.
Enquanto para Rui Reis tudo parecia novidade, Tiago Ribeiro já estava habituado a toda a dinâmica da RoboParty. Depois de ter participado numa das edições anteriores e de ter sido voluntário durante os 5 anos do Mestrado Integrado em Engenharia Eletrónica Industrial de Computadores, Tiago Ribeiro foi promovido a coordenador dos voluntários. O aluno de Doutoramento no Laboratório de Automação e Robótica, de 29 anos, acredita que a RoboParty é “um evento fantástico para jovens que estão interessados nesta área da robótica. Eles estão aqui 3 dias e 2 noites e é só para isto. Têm acesso a profissionais do mais competente possível, que explicam tudo o que eles precisam. Acho que é um excelente ambiente para quem quer evoluir nesta área”, explicou.

Desde a edição da RoboParty em que Tiago Ribeiro participou, algumas mudanças foram feitas. Em particular, por exemplo, este ano, o evento decorreu de quarta a sexta-feira. E apesar de o desafio do evento ser o mesmo: construir um robot e testá-lo em vários desafios, o evento continua a crescer dentro e fora de Portugal. “Este ano vieram participantes de todo o país, de norte a sul, e vieram 10 equipas do Brasil e 1 da China”, confessou Fernando Ribeiro com orgulho por ver o evento a ser enaltecido noutros países. “Já fomos reconhecidos pelo Robocup como sendo o maior evento educacional em Robótica no mundo. Competições há muitas, mas eventos educacionais desta dimensão não há mais nenhum”, explicou.
Por isso, o objetivo continua a ser fazer mais e melhor. Nesse sentido, este ano os participantes do evento montaram um robot diferente. Em comparação com as edições anteriores, o robot deste ano, o o Bot’n Roll ONE A+, possuía encoders nas rodas que permitiam saber ao certo quantos graus rodava a roda. “Nos anos anteriores, eles podiam dizer ao robot para rodar 90º e ele podia rodar 120º ou 180º. Não era certo”, esclareceu Fernando Ribeiro. “Agora os valores são exatos. Isso vai fazer imensa diferença nas provas, principalmente na prova de dança”, assegurou o organizador. Esta não era uma possibilidade para o robot de Tiago Ribeiro, quando participou na RoboParty em 2010, que agora está guardado como um troféu numa estante de sua casa.
Diversão e conhecimento sem limite de horas
Para os voluntários, a RoboParty também foi “non-stop”. Durante 24 horas por dia, 3 dias seguidos, os voluntários juntaram-se aos 400 participantes e trouxeram sacos de cama para dormir no pavilhão. Rui Reis, no primeiro dia, ainda não tinha decidido se ia ficar uma das noites no Pavilhão Desportivo, mesmo considerando que seria um “ambiente engraçado de experienciar”, mas Tiago Ribeiro sabia que pelo menos uma noite ficaria. Ao ser o coordenador dos voluntários, uma das suas funções era garantir o funcionamento do espaço. “Para os participantes, a RoboParty é de quarta a sexta. Para nós, voluntários, o evento é de segunda a sábado ou até à segunda da semana seguinte. É uma experiência que dá algumas competências de gestão de pessoas, onde aprendemos com os outros e onde somos desafiados”, revelou o aluno de Doutoramento, explicando que por vezes foram feitas perguntas aos voluntários que os obrigou a desconstruir termos e conceitos, de forma que um jovem de 10 anos os pudesse compreender.

“Esta é uma excelente iniciativa para clubes de robótica espalhados pelo país todo, terem ferramentas para continuarem o seu trabalho e para dar condições aos alunos de poder expandir os seus conhecimentos na área da robótica”, continou Tiago Ribeiro.
De todo o evento, a sua parte preferida foi a prova RoboParty Fun Challenge, que é a que origina os momentos mais divertidos e loucos, e a montagem e a desmontagem do espaço, em termos logísticos. “Acho fantástico como a massa humana que reunimos consegue desmontar um espaço em 2 horas, que foi montado em 8. Mesas, cadeiras, palco, chãos… É mesmo bonito de se ver”, partilhou. Já para Rui Reis, foram as atividades desportivas que mais lher desperaram curiosidade. Principalmente, o basquetebol. Isto porque, para além do evento participal, a RoboParty apresentou mais uma vez atividades extra onde os participantes se puderam divertir e relaxar, como o tênis de mesa, o xadrez, o tiro com arco, o basquetebol, um peddy paper e a atuações de Tunas da Universidade do Minho.
Mais uma edição para recordar
A equipa de 65 voluntários da RoboParty, este ano, supervisionou e ajudou cerca de 100 equipas, com quatro elementos. Todos eles tiveram o mesmo objetivo: construir um robot móvel autónomo. Como idades entre os 5 e aos 75, apesar da faixa etária predominantes ser entre os 15 e os 17, os participantes que Rui Reis e Tiago Ribeiro ajudaram tiveram formações em eletrónica e programação, de forma a garantir que as suas criações seriam capazes de participar nas provas pensadas para testar o desempenho de cada robot, como a Crazy Race, o RoboParty Fun Challange e o Robot Show.

No final da RoboParty, os participantes saíram com os robots que construíram, os professores que os acompanham com formação creditada de 20 horas, e os voluntários com uma sensação de dever cumprido, um anexo ao diploma e um certificado individual entregue pela organização num jantar animado de celebração no último dia do evento. “A experiência que eles levam daqui é muito boa. É que não é só científica. É as amizades que eles fazem, o conhecer pessoas de todo o lado”, explicou Fernando Ribeiro, mostrando que, acima de tudo, são os voluntários que fazem com que seja possível ter a capacidade para acolher uma quantidade elevada de participantes.
A edição de 2025, que contou com a ajuda destes dois voluntários, decorreu de 5 a 7 de março e foi organizada pela Universidade do Minho, o Laboratório de Automação e Robótica e a botnroll.com. A 17.º edição da RoboParty já terminou, mas para o ano há mais e, quem sabe, voltaremos a ver Rui Reis e Tiago Ribeiro por lá.
Por Sara Lopes