“O facto de muitas pessoas passarem mais tempo no seu automóvel do que na sua sala de estar, é uma das razões para a atual tendência do mercado, no sentido de interiores de veículos de qualidade superior e distintos”
Weber, J. (2009),
in Automotive Development Processes – Processes for Successful Customer Oriented Veh. Development, p.123.
A afirmação: “O facto de muitas pessoas passarem mais tempo no seu automóvel do que na sua sala de estar, traduz a atual tendência do mercado, no sentido de interiores de veículos de qualidade superior e distintos” que destaca uma realidade cada vez mais comum na sociedade moderna: o automóvel deixou de ser apenas um meio de transporte e passou a ser, para muitos, uma extensão do espaço pessoal e até profissional. Com o aumento do tempo passado em deslocações, seja por motivos de trabalho, lazer ou trânsito, é natural que os consumidores procurem maior conforto, funcionalidade e estética nos interiores dos seus veículos [1]. Assim, a tendência do mercado automóvel vai no sentido de proporcionar interiores mais sofisticados, ergonómicos e tecnologicamente avançados o que reflete essa nova exigência dos utilizadores. As marcas de automóveis investem, cada vez mais, em materiais de qualidade, design apelativo (Figura 1) e funcionalidades que transformam o automóvel num “segundo lar” confortável e personalizado.
Esta evolução também está alinhada com a valorização da experiência do utilizador, onde o bem-estar sentado dentro do veículo se tornou um fator diferenciador e competitivo no mercado [1].

O processo de design e desenvolvimento de um banco[1] automóvel, destinado à condução, exige uma abordagem multidisciplinar que considera conforto, segurança, ergonomia, funcionalidade e requisitos normativos (como os estabelecidos pelo FMVSS[2] (EUA),ECE R17/R25[3] (Europa), ISO 7250[4]), entre outras normas nacionais e internacionais que importa atender [1-2].
A ergonomia, juntamente com outras características fundamentais para assegurar o conforto postural no interior dos veículos, tem sido objeto de aprofundado estudo e desenvolvimento pela indústria automóvel ao longo dos últimos anos. Em função desse avanço consolidado, a produção recente de literatura técnica sobre o tema tem sido relativamente limitada. Todavia, sabe-se que a antropometria da população mundial, é distinta entre regiões e está a mudar ao longo do tempo (em geral, a população tende a ser maior e mais pesada), razão pela qual, na fase de projeto, existe a dicotomia entre a tendência para ajustes ao mercado de consumo e a procura por um design que se pretende tendencialmente universal [1].
A função primordial no design de um banco para o lugar do condutor de um automóvel, deve ser fornecer uma postura de condução de conveniência (Figura 2) [1,3]. Portanto, existem vários fatores importantes a considerar no projeto de um banco dianteiro que influenciam aspetos do design, como sejam as condições exclusivas de um “ambiente móvel”: a postura adequada para condução – a linha de visão, ângulos de conforto e alcance das partes do interior do veículo, etc. [1,3,4-7]; a legislação de referência aplicável aos projetos de bancos dianteiros para estabelecer padrões de segurança e conforto [8]; os controladores de ajuste das partes que compõem um banco para condução [9-10]; as funções específicas e globais das partes constituintes do banco, algumas das quais são patenteadas e homologadas para veículos [11-12]; padrões aceitáveis de vibração e ruído [1-13-18]; a geometria das estruturas do veículo e a sua influência nas condições de entrada e de saída do utilizador do mesmo [19-25]; parâmetros ergonómicos de conforto como as diferenças de pressão do corpo humano com as superfícies do banco [26-27]; estudos antropométricos para postura de condução [7,28]; temperatura [29-30], entre outros fatores [2, 12, 31-33].
Os dois lugares de assento na parte dianteira do veículo são denominados de bancos dianteiros e, por força das normas e da legislação aplicáveis, ostentam as mesmas exigências, características construtivas e funcionais, não se diferenciando nestes aspetos o banco do condutor do banco do passageiro, para os dois lugares da frente do veículo [12]. Porém, na prática, os dois bancos estão a tornar-se, cada vez mais diferenciados ao nível construtivo, pois a tendência do setor automóvel é a de introduzir exigências superiores para o lugar do condutor [9,34].
[1] Banco – o nome “banco” será empregue ao longo deste texto, pois a palavra afigura-se de designação corrente pela indústria automóvel (inclusivamente na normalização e legislação aplicável ao setor) para designar todo o conjunto de componentes que podem integrar o lugar onde se senta o condutor ou o passageiro de um veículo, nomeadamente: o assento, o encosto, o apoio lombar, entre outras partes e mecanismos a estes fixados. É, ainda, habitual diferenciar os lugares de posição nos veículos através das seguintes caracterizações: i) banco do condutor ou banco dianteiro do condutor – específico do lugar onde se operam os comandos de condução do veículo; ii) banco(s) dianteiro(s) – específico dos dois possíveis lugares da frente do veículo; iii) banco(s) traseiro(s) – específico dos lugares posteriores do veículo para acomodar passageiros [1].
[2] A FMVSS (Federal Motor Vehicle Safety Standards) são os Padrões Federais de Segurança de Veículos Motorizados dos Estados Unidos, definidos e regulados pela NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration), que é o órgão federal responsável pela segurança veicular.
[3] As normas ECE R17 e ECE R25 fazem parte dos regulamentos da UNECE (United Nations Economic Commission for Europe) e tratam da segurança dos assentos e encostos de cabeça em veículos automóveis. Estas normas são adotadas ou reconhecidas em muitos países fora dos Estados Unidos, especialmente na Europa, América Latina, Ásia e África.
[4] ISO 7250 – Norma internacional que fornece valores padronizados de medidas corporais humanas que servem como base para o design centrado no ser humano. A norma é usada para projetar produtos e ambientes que se ajustem confortavelmente a uma ampla gama de utilizadores.
Susana C. F. Fernandes
Coordenadora do Curso Técnico Superior Profissional em Design e Inovação Industrial do Instituto Politécnico da Maia – IPMAIA
Docente na Licenciatura de Engenharia Mecânica no Instituto Superior de Engenharia do Porto – ISEP
Investigadora no INEGI: LAETA – Laboratório Associado de Energia, Transportes e Aeronáutica
Para ler o artigo completo faça a subscrição da revista e obtenha gratuitamente o link de download da revista “robótica” nº139. Pode também solicitar apenas este artigo através do email: a.pereira@cie-comunicacao.pt
Outros artigos relacionados
- Artigo “Airbag e a importante combinação com outros dispositivos de segurança em veículos – 1ª parte” da edição 136 da revista Robótica;
VOCÊ PODE GOSTAR
-
Airbag e a importante combinação com outros dispositivos de segurança em veículos – 1ª parte
-
Redesenhar profissões do setor metalomecânico
-
Fatores que influenciam o rigor dimensional nos processos de fabrico por arranque de apara – 1ª Parte
-
Produtividade, conhecimentos e competências
-
A crescente carência de profissionais qualificados no setor metalomecânico