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inovação tecnológica

Mesa Redonda sobre inovação tecnológica

A revista Robótica decidiu fazer nesta edição uma Mesa Redonda sobre o estado da inovação tecnológica em Portugal, o que evoluiu ao longo dos anos e o que ainda é necessário fazer.

Ciente da importância cada vez mais crescente da inovação tecnológica e das mudanças que estão a ocorrer nas escolas de formação – universidades, politécnicos e escolas profissionais – a revista Robótica decidiu fazer nesta edição uma Mesa Redonda sobre o estado da inovação tecnológica em Portugal, o que evoluiu ao longo dos anos e o que ainda é necessário fazer. Ouvimos especialistas de diferentes instituições e áreas de formação e o resultado só podia ser este: um espaço de discussão completo, onde se levantam problemas reais e se apresentam soluções para melhorar a inovação. Obrigado a todos os intervenientes!

1 – Como caraterizam a inovação tecnológica atualmente vigente na educação?

Academia Militar
Investigadores – Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (CINAMIL)

No ensino obrigatório, a inovação tecnológica atualmente vigente na educação é o resultado de uma evolução ao longo dos últimos anos em particular com a integração das tecnologias de informação. Ao nível do ensino superior, nomeadamente na Academia Militar, a inovação tecnológica na educação é um tema crucial. Atualmente, a inovação tem estado diretamente ligada ao ensino através dos Projetos de IDI do Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da Academia Militar (CINAMIL) que integra docentes e discentes, de modo a preparar os futuros militares com habilidades de excelência operacional e a aplicação de tecnologias ao moderno campo de batalha.

ATEC – Academia de Formação
Alexandre Barata e Paulo Peixoto – Equipa de Inovação Pedagógica

A crescente evolução tecnológica, as mudanças climáticas, o aumento da globalização, o impacto deixado pela pandemia da Covid-19, a atual situação de conflito na Europa e os seus efeitos diretos e colaterais, marcam a atualidade e esboçam um futuro desafiador. Esta crescente dinâmica do mundo que nos rodeia determinou a necessidade de olharmos a educação de um outro ângulo e introduziu novas dinâmicas neste contexto, nomeadamente:

  • A ampla disponibilidade de conteúdos, onde a diversificação de recursos digitais online, sejam cursos, vídeos, materiais didáticos, abriu um novo mundo onde só não aprende quem, efetivamente, assim não o entender;
  • A facilidade de colaboração; através das ferramentas colaborativas, como a videoconferência, que permite que os formandos trabalhem em grupo, discutam ideias e partilhem informações em tempo real, em locais e geografias diferentes;
  • A flexibilidade e personalização; onde o incremento da utilização de plataformas de aprendizagem (Learning Management Systems – LMS) permitem criar experiências de aprendizagem adaptadas ao estilo e ao ritmo de cada formando, centrando nele o processo de aprendizagem; e os
  • Ambientes de aprendizagem enriquecidos, como, por exemplo, com o recurso à realidade aumentada e virtual que permitem criar experiências de aprendizagem interativas, transportando para a aprendizagem contexto reais do quotidiano.

Importa ressalvar que a tecnologia por si só não se constitui com uma inovação pedagógica, mas sim a sua adequada seleção para cada situação do processo de ensino e aprendizagem, devendo ser vista como um meio para melhor alcançar um determinado objetivo final.

CENFIM
José Novais da Fonseca – Diretor do Departamento de Gestão de Projetos

A educação, de forma geral, é um território muito conservador, que tem o seu modus operandis demarcado por práticas ancestrais que ainda hoje, na maioria dos casos, se balizam entre as 4 paredes da sala de aula, um processo de aprendizagem centrado e hierarquizado no formador, recursos didáticos excessivamente textuais, programas de formação baseados na adição linear do conhecimento.

Mas a influência do digital veio trazer novas tecnologias para os espaços de aprendizagem, e influenciar a didática, com recursos de aprendizagem mais apelativos e conteúdos onde a imagem e a interatividade enriquecem a estática do texto, trazendo-lhe, se quisermos, uma terceira dimensão. Estes novos recursos têm obrigado a repensar a forma como concebemos a comunicação em contextos de aprendizagem, a relação formando-formador e o desenho dos programas de formação.

Em resumo, continuamos a fazer como sempre fizemos, mas há efetivas franjas de inovação, suscitadas pelas novas tecnologias, que vêm sendo cada vez mais aplicadas neste clima de mudança da educação, sobretudo no domínio da formação profissional.

INETE – Instituto de Educação Técnica
Luís Pires – Professor e Coordenador

A inovação tecnológica poderá ser dividida em alguns aspetos:

  • Acesso à informação: a tecnologia tem permitido que os alunos e professores tenham acesso a informações de forma mais rápida e fácil, através de plataformas online, bases de dados, bibliotecas virtuais, entre outras ferramentas. O que possibilita o aumento da eficiência do processo de pesquisa, aprendizagem e autoaprendizagem.
  • Personalização do ensino: com a tecnologia é possível personalizar o ensino para atender às necessidades e habilidades individuais de cada aluno, adaptar o conteúdo e o ritmo de aprendizagem de acordo com o desempenho e as preferências do aluno.
  • Aprendizagem colaborativa: a tecnologia tem permitido que os alunos trabalhem colaborativamente em projetos e atividades de forma remota, utilizando ferramentas de partilha e comunicação online, facilitado a troca de ideias e o trabalho em equipa.

IPLUSO – Instituto Politécnico da Lusofonia
Gilberto Mendes – EET – Escola de Engenharia e Tecnologias

Portugal encontra-se num contexto bastante favorável em relação às possíveis iniciativas em inovação tecnológica, por ter material humano em bom fluxo de formação, e com qualidade, deve-se mencionar. Para que este fator contribua de facto para a evolução do país, para se tornar protagonista no fornecimento de produtos com alto valor agregado, a atratividade das posições de trabalho devem fazer frente ao que se oferece em outros países da União Europeia. Não se deve focar só em salários, mas também na progressão da carreira, na vida plena, socialmente engajada, não só nos setores de tecnologia. Diminuindo objetivamente o êxodo destes potenciais sustentáculos da inovação portuguesa, acontecem os investimentos em fábricas locais e cresce todo um ecossistema de logística, manutenção e outros setores orbitais.

Universidade de Aveiro
Vítor Santos – Departamento de Engenharia Mecânica

A tecnologia transformou toda a educação, tornando-a mais acessível, personalizada e interativa. São exemplos as plataformas de aprendizagem online, a “gamificação”, a realidade virtual e aumentada, a inteligência artificial e as ferramentas colaborativas.

As vantagens e virtudes dessas tecnologias complementam-se em múltiplas frentes. As plataformas online permitem a autoaprendizagem, a gamificação motiva os alunos pelo desafio, competição e recompensas, a realidade virtual e aumentada permite experimentar cenários do mundo real num ambiente controlado, e o uso de inteligência artificial tornou-se popular para assistência à aprendizagem e à realização de tarefas. Mas, talvez a que apresenta mais efeitos práticos, é o uso de ferramentas colaborativas, como editores de documentos, e sistemas de videoconferência.

Universidade de Coimbra
Pedro Neto – Departamento de Engenharia Mecânica, Coordenador do Laboratório de Robótica Colaborativa

A educação está em fase de grande transformação assente numa crescente disponibilidade e utilização de tecnologias da informação, comunicações e inteligência artificial. Estas promovem diferentes
formas de aprendizagem, nomeadamente o ensino à distância, o concretizar de experiências em ambientes simulados ou realidade virtual, teleoperação de equipamentos, entre outros.

Universidade de Coimbra
Marco. S. Reis – Departamento de Engenharia Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia

A inovação tecnológica no ensino superior pode ser vista sob múltiplas perspetivas. Referindo-me apenas a duas destas dimensões, tem sido evidente o desenvolvimento de (i) plataformas de ensino à distância, e um esforço para a (ii) criação de novos cenários de aplicação tecnológica em contexto de sala de aula.

Quanto à primeira dimensão, temos assistido a um crescimento no número de plataformas e soluções para ensino à distância, em formato síncrono, assíncrono ou híbrido, que foi ainda mais potenciado pela pandemia. Quanto à segunda dimensão, existem múltiplas iniciativas que diferem consoante a área do saber em que se situam, e.g.: a programação de robots e drones para realização de tarefas específicas; a simulação física de sistemas produtivos e sua otimização usando metodologias lean; o uso de simuladores industriais de alta-fidelidade para treino de estratégias de supervisão e otimização de processos.

Universidade Fernando Pessoa
Rui Torres – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Embora o esforço de atualização tecnológica por parte dos agentes envolvidos na educação seja evidente, e o processo de inovação tecnológica no ensino pareça irreversível, há que reconhecer que a velocidade a que se sucedem as novidades tecnológicas, tornando rapidamente obsoletos alguns investimentos significativos, atrasa, por vezes, a adoção e implementação das inovações disponíveis. Por outro lado, apesar de a pandemia Covid-19 ter impulsionado e acelerado a utilização de ferramentas e métodos adequados ao ensino a distância, falta ainda alguma capacitação de docentes e estudantes para criar e utilizar de um modo efetivo os conteúdos que necessariamente circularão em ambientes virtuais de aprendizagem. Por tudo isto, a inovação tecnológica atualmente vigente na educação é entusiasta mas inconstante.

Universidade Lusófona
Manuel José Damásio – Diretor do Departamento de Cinema e Artes dos Media

A inovação tecnológica em educação carateriza-se por intervenções diversas ao longo da cadeia de valor do processo educativo que podem ser sintetizadas em 3 grandes domínios:

  • inovações em termos de presença com o crescimento de soluções para suporte remoto, síncrono e assíncrono, ao ensino e formação;
  • inovações no domínio dos processos de avaliação com o crescimento exponencial de solução de automação de processos de testagem e avaliação;
  • inovações ao nível da mentoria e suporte ao ensino com a introdução de soluções diferenciadas baseadas em inteligência artificial para mentoria e suporte.

Todas estas inovações estão, por norma, associadas ao aumento da eficiência dos processos de ensino/aprendizagem e melhoria no grau de envolvimento e motivação de formandos e formadores.

Universidade Portucalense
Paula Morais – Departamento de Ciência e Tecnologia

A forma como os professores ensinam e como os estudantes aprendem tem evoluído, estando a dar-se mais relevo a estratégias de aprendizagem ativa. Estas ajudam os estudantes a desenvolver competências, consideradas fundamentais para o futuro da empregabilidade, como espírito crítico, autonomia, resolução de problemas, colaboração e comunicação, tornando o processo de aprendizagem mais significativo para os estudantes e aumentando o seu empenho.

Atualmente, existem várias tecnologias que potenciam estas estratégias, tendo sido a sua adoção acelerada pelo Covid-19, que fomentou o ensino remoto e híbrido, abrindo novas oportunidades. Notou-se um aumento no uso de plataformas de aprendizagem online, de videoconferência, de ferramentas de colaboração digital. Para além destas tecnologias, começam a ser cada vez mais usadas ferramentas de realidade virtual e aumentada, de inteligência artificial e de gamificação.

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Vítor Filipe – Presidente da Escola de Ciências e Tecnologia

O setor da educação está a entrar numa nova era, em que um conjunto de inovações tecnológicas está a ser gradualmente introduzido em sala de aula, designadamente:

  • A necessidade de responder ao cenário causado pela pandemia COVID-19 acelerou a adoção do ensino online, através de plataformas de e-learning, laboratórios virtuais e vídeo aulas;
  • O rápido crescimento da inteligência artificial está a obrigar a mudanças na forma como se ensina e no modo como se avaliam os estudantes. Por exemplo, várias instituições de ensino e até governos estão divididos sobre a utilização de agentes conversacionais (Chat GPT, Google Bard,) como instrumentos de aprendizagem;
  • As soluções de ensino imersivo e gamificação, com o recurso a tecnologias de realidade aumentada e realidade virtual, tornam a aprendizagem mais eficaz, atrativa e interativa.

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