O INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência – é o vencedor do prémio europeu de inovação, entregue no dia 23 de outubro, em Bruxelas, pela EARTO – uma associação europeia de organizações ligadas à ciência e à tecnologia -, que, todos os anos, destaca contribuições inovadoras e com elevado impacto social através de duas categorias: impacto entregue e impacto esperado.
O INESC TEC é a primeira instituição portuguesa a conquistar este prémio atribuído na categoria “impacto esperado”, reforçando o seu papel como maior instituição de investigação e desenvolvimento de engenharia, em Portugal, e um dos principais centros do país dedicados à transferência de tecnologia de inovações digitais.
O prémio foi atribuído à tecnologia “intelligent Lab-on-a-Fiber“(iLof), que nasceu nos laboratórios do INESC TEC pelas mãos dos investigadores deste instituto e da Universidade do Porto, Joana Paiva, João Paulo Cunha e Pedro Jorge. A iLoF permite a estratificação de doentes através de biomarcadores relevantes, obtidos de modo não invasivo recorrendo a um sistema fotónico eficaz e posterior identificação de padrões únicos usando inteligência artificial. Por outras palavras, as impressões digitais biomoleculares obtidas pela tecnologia abrem a porta à medicina personalizada com diagnósticos e tratamentos mais precisos e ajustados às necessidades daquele grupo de doentes. Para além do impacto direto que esta solução tem quer para pacientes, em doenças como a de Alzheimer ou o cancro, quer para profissionais de saúde, há ainda o potencial de utilização noutros setores, já que a deteção precisa de micro e nano partículas é relevante em muitas áreas de aplicação.
De facto, a deteção de micro e nano alvos é fundamental para o desenvolvimento de medicamentos, ensaios clínicos, diagnósticos e outros subdomínios do conceito OneHealth (uma só saúde). No entanto, as soluções atuais apresentam uma baixa eficiência económica e induzem um desconforto desnecessário nos doentes, o que pode ser consideravelmente melhorado com a inovação iLoF. Esta solução tem um custo baixo, reduz, em pelo menos, 40% os custos de ensaios clínicos e até 70% o tempo de triagem, o que significa que – quando aplicado à área da saúde – pode tornar o processo mais acessível e eficiente. Só que a grande vantagem desta tecnologia é que não se esgota na área da saúde – onde pode, de facto, vir a transformar uma série de processos de bioengenharia.
A iLof – premiada agora como a inovação europeia de 2024 – tem um impacto económico e social muito relevante e que já foi testado em ambiente real pela ação da spin-off, que tem o mesmo nome da tecnologia – iLoF. “A tecnologia já demonstrou o seu impacto em pilotos reais, permitindo, por exemplo, poupar milhões de euros em ensaios clínicos, quando aplicada à área da saúde. Na saúde, ao permitir a criação de uma vasta biblioteca de perfis biológicos digitais, a iLoF tem potencial para mudar o paradigma dos ensaios clínicos e da medicina personalizada, oferecendo uma abordagem mais direcionada e eficaz ao tratamento de doenças e é isso mesmo que este prémio da EARTO vem distinguir”, explica Daniel Vasconcelos, responsável pelo gabinete de transferência de tecnologia do INESC TEC e que acompanhou a tecnologia desde a sua génese até à materialização, proteção da propriedade intelectual e valorização pela via spin-off.
A tecnologia iLof pode ter impacto no mercado global da medicina personalizada, que está avaliado em mais de 500 mil milhões de euros. Esta solução beneficia não só pacientes – ao melhorar a precisão de diagnósticos -, mas cria também oportunidades para novas tecnologias no setor farmacêutico, reduzindo barreiras de entrada e fomentando um maior crescimento económico.
O sistema de saúde tradicional tem seguido uma abordagem one-size-fits-all, ou seja, uma abordagem de tratamento único, independentemente de uma série de outros fatores que são de extrema relevância no que à saúde diz respeito. Esta estratégia tem vindo a revelar-se muito pouco eficaz para lidar com determinadas doenças complexas, como é o caso da doença de Alzheimer, onde nos últimos 14 anos se verificou o falhanço de mais de 400 ensaios clínicos. Estes dados mostram a necessidade urgente de estratégias de tratamento personalizadas, que esta tecnologia tem capacidade de fornecer.
É precisamente nesta área que a tecnologia iLof, ao utilizar uma plataforma de IA, tem o potencial de revolucionar os cuidados de saúde, na medida em que, ao ter a capacidade de gerar impressões digitais óticas precisas a partir de amostras de sangue, simplifica o processo e a experiência do paciente e reduz todos os custos associados a ensaios clínicos ou triagens.
Espera-se agora que a spin-off do INESC TEC iLoF lance uma solução comercial baseada na tecnologia com o mesmo nome para ensaios clínicos nos próximos três anos. Esta spin-off já realizou testes pré-comerciais com sucesso com uma grande farmacêutica, durante os quais conseguiu quantificar alguns dos potenciais benefícios da tecnologia iLoF. Atualmente, a spin-off iLoF integra o estudo internacional Bio-Hermes-002 no qual se pretende revolucionar a pesquisa e o tratamento da doença de Alzheimer. O INESC TEC continua a desenvolver soluções tecnológicas nesta área do conhecimento, algumas com a spin-off iLoF, procurando novas formas de valorizar e aumentar o seu impacto nos desafios societais mais alinhados com o OneHealth.
Não é a primeira vez que o INESC TEC sobe ao pódio da EARTO. Já em 2023, o instituto tinha alcançado o terceiro lugar na categoria “Impact Expected” com a tecnologia MyNPK – Precision fertilization sensing technology. A Associação EARTO integra mais de 350 membros de mais de 30 países.
INESC TEC
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