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Sociedade Portuguesa de Robótica

Sociedade Portuguesa de Robótica

Unir para crescer: a força da comunidade robótica portuguesa.

Ser eleito Presidente da Sociedade Portuguesa de Robótica foi para mim uma honra e, acima de tudo, uma grande responsabilidade. Uma responsabilidade perante uma comunidade que apesar de não ser ainda muito grande, é muito dedicada, criativa e resiliente. Agora precisa de se unir e de crescer. Porque só com uma comunidade unida, colaborativa e inclusiva, a robótica portuguesa poderá crescer e atingir o seu potencial.

Diretor da revista Robótica é o novo Presidente da Sociedade Portuguesa de Robótica
A. Fernando Ribeiro, Presidente da Sociedade Portuguesa de Robótica

A curto e médio prazo, a adoção estratégica de robótica — desde células colaborativas flexíveis nas nossas PME até sistemas autónomos em setores como o agroalimentar, o automóvel ou a aplicação marítima — será determinante para o relançamento industrial de Portugal. Os robots e a robótica são hoje o pilar da chamada Indústria 5.0: aumentam a produtividade sem sacrificar a personalização, melhoram a qualidade do produto, reduzem desperdícios energéticos e possibilitam a produção de um alto valor acrescentado perto do cliente final. Para um país relativamente pequeno como Portugal, mas com grande tradição exportadora, isto significa encurtar cadeias de abastecimento, atrair investimento estrangeiro qualificado e, acima de tudo, criar empregos mais bem pagos em engenharia, manutenção avançada e análise de dados. Ao colocarmos a robótica ao serviço da re-industrialização e da inovação, estaremos a dar às empresas portuguesas a capacidade de competir num mercado global cada vez mais exigente, e a reforçar a sua resiliência a choques externos.

Para os portugueses em geral, a robótica é muito mais do que máquinas em linhas de produção; é uma excelente ferramenta para melhorar a qualidade de vida e enfrentar grandes desafios estruturais, desde a demografia ao clima. Robots de assistência podem prolongar a autonomia de idosos em casa, plataformas autónomas podem tornar a agricultura mais sustentável e competitiva, veículos de entrega e mobilidade urbana podem reduzir congestionamentos e emissões, e tecnologias de reabilitação robótica podem acelerar a recuperação de doentes. Acresce que a implementação destas soluções permitirá criar oportunidades de carreira para jovens nas áreas STEM e requalificação para trabalhadores em transição, enquanto liberta as pessoas de tarefas perigosas e/ou repetitivas. Se formos capazes de integrar estas soluções de forma ética, participada e inclusiva, a robótica torna‑se num motor de coesão social, de crescimento económico e até de bem‑estar para toda a sociedade portuguesa.

A nossa comunidade robótica não se limita apenas à academia ou à indústria. Ela é também composta por estudantes do ensino secundário e profissional que constroem os seus primeiros robôs em clubes escolares, por docentes que promovem oficinas tecnológicas, por startups ousadas e empresas consolidadas, por centros de investigação de excelência, por utilizadores que aplicam a robótica na agricultura, na logística, na medicina, entre outros. É uma rede viva, rica e diversa. Mas para crescer, essa rede tem de se reconhecer como parte de um ecossistema comum, que partilha ideias e ações.

Hoje, o futuro da robótica faz-se em conjunto. Nenhuma instituição ou setor pode progredir de forma sustentada se trabalhar isoladamente. Precisamos de criar pontes reais entre investigadores e empresas, entre escolas e universidades, entre eventos académicos e concursos de robots educativos. Precisamos de partilhar o conhecimento, de abrir portas, de criar oportunidades, e de colaborar mais.

Para transformar essa colaboração em resultados tangíveis, propomos para este biénio iniciativas concretas para dar corpo a esta visão: reforçar a promoção da robótica junto das camadas mais jovens, criar formações e recursos pedagógicos para professores e educadores, dinamizar eventos que juntem diferentes gerações e perfis da nossa comunidade, e aumentar a visibilidade internacional da robótica feita em Portugal. Mas mais importante ainda, pretendemos intensificar a ligação à indústria e estimular a criação de projetos conjuntos que promovam a inovação tecnológica e o empreendedorismo.

Sabemos que a robótica tem um impacto crescente na sociedade e que levanta questões éticas, sociais e económicas muito relevantes. Por isso, queremos que a SPR tenha um papel ativo na reflexão sobre as políticas de robótica e inteligência artificial, contribuindo para que o desenvolvimento tecnológico seja justo, inclusivo e sustentável.

Na minha visão para a SPR, esta Sociedade tem de ser mais do que uma estrutura associativa. Deverá ser um catalisador, um ponto de encontro onde todos se sintam representados, valorizados e motivados, e onde a robótica é celebrada, divulgada e transformada em impacto real na sociedade.

A robótica portuguesa tem futuro. Mas esse futuro não se constrói sozinho. Constrói-se com vozes diferentes que se escutam, com talentos que se unem, com experiências que se cruzam. Constrói-se com uma comunidade ativa, aberta e solidária.

Juntos, seremos mais fortes.

A. Fernando Ribeiro
Presidente da Sociedade Portuguesa de Robótica
Prof. Universidade do Minho (2025–2027)